Cultura periférica e o estilo Mandrake

Por: Paula Leal (120883), Inácio Lippi (120873), Sofia Costa (108017), Anne Faria (120876)
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Influências e surgimento do estilo mandrake

O estilo mandrake se destaca pelas roupas de marca (ou réplicas), tênis de molas, juliette, correntes e por ser uma movimento identitário da periferia paulistana. 

A possível origem do nome “Mandrake” se dá em razão do mágico Mandrake, revista em quadrinhos que teve seu início na década de 1930, e se tornou muito popular nos anos 80. Mandrake era um mágico, conhecido por ser sagaz e elegante, também aquele que é hábil. E o sujeito sagaz, na quebrada,  um elogio para os jovens da época, mostrando que era esperto e estiloso, assim tem a habilidade de conduzir a vida do jeito que lhe atende, sendo um qualificativo muito valorizado entre a juventude periférica.

A partir com a consolidação do Funk no Brasil, surge o termo “funkeiro” para designar aqueles que cantam ou aderem a esse estilo musical. Não demorou muito para que esses indivíduos começassem a adotar vestimentas semelhantes e compartilhar ideias. 

No ano de 2020, entretanto, o termo “Mandrake”, usado para se referir aos jovens funkeiros, tornou-se amplamente popular, especialmente no aplicativo “TikTok”  Um dos primeiros contatos com a palavra acontece em 2019 através das músicas do Mc Paulin da Capital, mas passa a ser popularmente conhecida em 2021 com o lançamento de “Casal Mandrake”, música de sua autoria com a funkeira Mc Dricka 

Esse termo faz referência a um grupo de pessoas que compartilham tanto o gosto musical quanto a moda associada aos funkeiros. Mandrake representa uma variação do que era denominado como funkeiro, e, a partir da metade da década de 2010, passou a ser conhecido como “chave” ou “chavoso”. 

O estilo de roupa se refere a camisas de times de futebol, bermudas de tactel, tênis com 8 ou 12 molas, cabelos pintados, bonés, estampas coloridas, personagens como Tio Patinhas, Zeca Urubu, Irmãos Metralha, chinelos Havaianas, correntes, tatuagens e a famosa “juliet”, além da popularização de marcas como Lacoste, Oakley, Cyclone e Gucci.

Desde então, o estilo vem crescendo cada vez mais, sendo disseminando nas redes sociais até por artistas influentes no Brasil e no exterior.

Pauta identitária

Mandrake representa o meio como os jovens da quebrada encontraram de se mostrarem para o mundo, assumirem o controle de suas próprias trajetórias e criarem sucesso, desafiarem o racismo e ganharem espaço em cenas, como a musical, que antes não eram ocupadas por eles.  

Dado que a maioria desses jovens que são conhecidos como “mandrakes”, serem das áreas periféricas, são percebidos como corpos marginalizados que, como qualquer outro habitante dessas regiões, frequentemente enfrentam exclusão de iniciativas culturais e são alvos de violência, seja ela física ou psicológica. 

A subcultura Mandrake se configura como uma pauta identitária porque representa mais do que um conjunto de escolhas estéticas. Ela expressa um modo de vida, um pertencimento territorial e um posicionamento político-cultural da juventude periférica. Ao adotar roupas de marcas populares na quebrada, cortes de cabelo chamativos, óculos “juliet” e a musicalidade do funk, os jovens reafirmam sua existência em uma sociedade que insiste em inviabilizá-los e criminalizá-los. 

Assim, ser Mandrake é mais que estilo de roupa, é assumir uma identidade coletiva que confronta padrões hegemônicos de gosto e comportamento, frequentemente ditados por elites urbanas. Se manifestando como afirmação cultural, o orgulho da periferia, valorização de símbolos próprios e resistência à exclusão social, mas também como denúncia dos mecanismos de preconceito que reduzem essa estética a estereótipos negativos. Logo para quem vive a realidade da periferia, essa estética traduz vivências, dores e resistências.

Mandrake como moda alternativa

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O estilo mandrake é considerado moda alternativa devido a suas origens periféricas e de luta através do funk de São Paulo e Rio de Janeiro, representando uma identidade cultural que enfrenta padrões sociais, buscando reconhecimento por meio de uma estética única com significado, como o uso de roupas de marca, óculos escuros, e acessórios diversificados. Ele transcende a vestimenta, incorporando ações, falas, expressões diversas, resistência e, principalmente, a vivência diária da rua, sendo uma manifestação da cultura periférica e sua realidade, buscando lugar e permanência.

O estilo mandrake se enquadra no alternativo pois ele critica os padrões estéticos já estabelecidos, promovendo uma visão de moda ampla que foge do comum e do eurocêntrico eraizado na sociedade, representando um novo universo da moda como um todo.

Além disso, existem outras subculturas: Mandrakitty é um termo que deriva da aglutinação das palavras: mandrake e kitty -da personagem Hello Kitty-, sendo kitty um termo utilizado popularmente para se referir a pessoas com trejeitos mais femininos e vaidosos, sendo ligado principalmente a cor rosa, frequentemente utilizado para designar homens gays que se identificam com a cultura mandrake mas ainda querem manter e expressar sua sexualidade no ambiente que estão inseridos, conquistando espaços através da luta contra a homofobia, mostrando que pessoas homossexuais podem e devem ocupar todos os espaços e estão presentes em todas as culturas normalmente.

O estilo “Mandrakitty” ainda não é completamente consolidado e nem muito aceito dentro da comunidade periférica, porém, ele ganha força a cada dia através das redes sociais e como elas impulsionam um novo estilo de vida e uma nova identidade cultural mais abrangente e inclusiva.

O estilo na indústria musical

O mandrake deixou de ser apenas uma estética das periferias e se tornou um movimento musical relevante dentro da indústria fonográfica brasileira. Ele aparece principalmente no funk e no trap, com uma sonoridade marcada por batidas pesadas, flows acelerados e letras que misturam ostentação, cotidiano da quebrada e crítica social.

Na indústria musical, sua importância pode ser vista em alguns pontos:

  • Expansão de mercado: artistas do mandrake saíram das quebradas e conquistaram grandes palcos, festivais e parcerias com gravadoras, tornando-se referência para o funk/trap atual.
  • Artistas em destaque: MC Hariel, Kyan, Tasha & Tracie, entre outros, consolidaram o mandrake no mainstream e ampliaram a representatividade periférica.
  • Clipes e estética musical: videoclipes usam elementos do estilo (motos, carros, roupas de marca, quebradas) como parte da linguagem, reforçando a identidade visual da música.
  • Digitalização e streaming: o mandrake ganhou força com o YouTube, TikTok e Spotify, que abriram espaço para sons de rua alcançarem milhões de plays sem depender das grandes gravadoras.
  • Transformação da indústria: hoje, o mandrake é um produto cultural lucrativo, capaz de movimentar moda, publicidade e festivais, mas sem perder o vínculo com a realidade social das periferias.

“Vocês vão ter que aceitar que favelada é ícone de moda há muito tempo. Sou ligada na moda antes de lançar música. Sou estilista, não preciso de estilista. Quando saio da minha casa para um prêmio ou para algum lugar, eu sei a imagem que quero passar… se vocês estão falando, é porque são tão otários, que são justamente as pessoas que não queremos agradar.”- Tracie, da Tasha & Tracie, responde críticas por roupas no BET Hip Hop Awards 2023.

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