Split Screen Content: Novo formato usado para prender atenção da geração Z

Por Paula Leal (120883) e Anne Faria (120876)

Split Screen Content é um formato utilizado por criadores de conteúdo nas redes sociais de vídeos curtos – como Tiktok, Instagram Reels, Youtube Shorts e Kwaii-, que consiste em dividir a tela em duas: uma parte com um vídeo de Podcast, entrevista ou storytelling. A outra, tem um vídeo de conteúdo estimulante e chamativo: um ASMR, jogos de videogame, ou vídeos satisfatórios.

O objetivo dos criadores é prender a atenção dos espectadores, os mantendo atentos à tela, e assim, monetizando a visualização. Um estudo do Content Marketing Institute descobriu que o conteúdo multissensorial pode aumentar a retenção de espectadores em até 60%. Ao estimular múltiplos sentidos, os criadores mantêm os espectadores cativados por períodos mais longos, o que é ouro no mundo das métricas de mídia social.

De acordo com as estatísticas, os vídeos de tela dividida aumentam em 40% o tempo de tela comparado com os vídeos padrões. Esses vídeos também têm o dobro de engajamento, o que significa que o algoritmo de aplicativos os coloquem como prioridade para você, na sua for you page , aparecendo mesmo que você não demonstre interesse no conteúdo de fato.

E como isso funciona?

  • Engajamento: Nossos cérebros são programados para buscar novos estímulos. O formato de tela dividida proporciona um engajamento duplo, mantendo o cérebro ocupado e com menos probabilidade de se distrair.
  • Satisfatório: Longas falas podem ser desinteressantes e cansativas para a nova geração, gerando pouco engajamento. Combinar essas falas com um vídeo satisfatório mantem o interesse sobre o mesmo assunto.
  • Apelos à curta capacidade de atenção : Na era da sobrecarga de informações, captar e manter a atenção é um desafio. Vídeos em tela dividida atendem à nossa capacidade de atenção reduzida, oferecendo mais estímulos.

Sobre a atenção e multitarefas

Attention span, ou limiar da atenção é o tempo que uma pessoa consegue se concentrar numa tarefa antes de se distrair. A multitarefa (multitasking) sobrecarrega o cérebro ao alternar rapidamente entre tarefas, o que diminui a capacidade de concentração e aumenta a distração, ou seja, prejudica o seu attention span (limiar de atenção).

Como isso se relaciona aos vídeos de split screen? Na verdade, esses vídeos são uma consequência – e talvez também a causa – direta à diminuição do tempo em que conseguimos prestar atenção em algo, dando uma solução fácil para esse problema, e dando uma sensação de multitasking, apelando, em todos os sentidos, para que o usuário permaneça no vídeo.

A revista Scientific American, em janeiro de 2024, entrevistou diversos especialistas que compararam a tela dividida com a multitarefa.

“O aumento da “multitarefa de mídia” parece ter efeitos significativos no cérebro em desenvolvimento. Um estudo de 2020 descobriu que a atenção e a recuperação da memória podem piorar em jovens adultos que se envolvem em várias mídias digitais em vários dispositivos simultaneamente, como assistir a um programa, enviar mensagens de texto e verificar as mídias sociais ao mesmo tempo. O conteúdo de lodo parece ser uma forma supercarregada de multitarefa de mídia”

E, afinal, pra quê tudo isso?

Os vídeos nesse estilo são feitos juntando dois conteúdos prontos, certo? O vídeo abaixo conta com uma legenda extremamente chamativa e rápida -feita por inteligência artificial- de uma história no reddit-redigida por uma pessoa anônima-, que é narrada por um homem – feito por IA-. Em segundo plano, há um clipe de uma gameplay -jogada e compartilhada por um outro criador-, na qual o jogador não tem um objetivo além de “passear” no Minecraft.

@lucidscare

When I started babysitting, the parents gave me a horrifying set of rules. #horrorstory #haunted #scary #nosleep #askreddit #reddithorror #paranormal #fyp #horror #lucidscare

♬ original sound – Lucid

Ao longo do vídeo, você leu (sim, leu!) sem perceber uma história que, sem o vídeo, você provavelmente não teria lido por achar longa demais ou teria perdido o interesse no meio. Além disso, você viu uma gameplay de um jogo que talvez você nunca tenha demonstrado interesse em ver e não veria sentido algum em ver uma pessoa passeando pelos blocos do Mine.

A pessoa que publicou o vídeo não precisou produzir do zero tudo que ele usou no vídeo, mas sim tomou posse de elementos de domínio público e criou algo seu. Desta forma, o criador de conteúdo não precisa pagar por direitos autorais. E, como tudo já vem pronto, a pessoa consegue publicar múltiplas vezes ao dia.

Ao juntar os elementos que talvez não tivessem atenção, essa pessoa conseguiu 23 milhões de visualizações, com quase nenhum esforço. Por quê ele faria isso repetidamente?

Por exemplo, a remuneração do TikTok depende diretamente do Programa de Recompensas do Criador (Creator Rewards Program), que remunera criadores por visualizações em conteúdo original e de qualidade. A média de pagamento por 1.000 visualizações (RPM) é variável, mas geralmente situa-se entre US$ 0,50 e US$ 1.

Ou seja, se o valor pago for dentro da média, o criador embolsou entre 11.500 e 23 mil dólares com um único vídeo, sem nenhum tipo de investimento.

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